SEM GRILHETAS NEM SENSURA

SEM GRILHETAS NEM SENSURA

NOTA:

NESTE BLOGUE, todos os títulos possuem hiperligação relacionada no YOUTUBE.

AOS AMANTES DO CONHECIMENTO E DA VERDADE OBJECTIVA

A TODOS AQUELES QUE GOSTAM DE VER E DE SABER PARA ALÉM DA SUBJECTIVIDADE E DA VERDADE OCULTA.

PESQUISAR NESTE BLOGUE

Páginas

PORTAL DE AGOSTINHO DA SILVA

PORTAL DE AGOSTINHO DA SILVA
O FILOSOFO DE PORTUGAL

quinta-feira, 3 de março de 2011

CARLOS VI DE FRANÇA, O LOUCO



Carlos VI de Valois, o Louco ou o Bem Amado, nasceu a 3 de Dezembro de 1368 e faleceu a 21 de Outubro de 1422, foi Rei de França da Casa de Valois, entre 1380 e a sua morte. A sua rainha consorte foi Isabel da Baviera com quem casou em 1385.
Carlos VI nasceu em Paris, primogénito de Carlos V apelidado o Sábio, e de Joana de Bourbon. Como herdeiro da coroa ao nascer, recebeu o título de Delfim de França em 1368.  Os seus quatro tios, duques de Anjou, de Berry, da Borgonha e de Bourbon, guardaram o poder até 1388; apenas o duque de Borgonha tinha algum interesse pelo bem público. Em 1380, Carlos subiu ao trono por morte do pai mas como tinha 12 anos, a regência ficou entregue a um conselho chefiado pelos seus tios João de Berry, Filipe da Borgonha e Luís de Anjou.

Durante sua menoridade, o país foi assim governado em função dos interesses dos tios, que guerreavam frequentemente entre si sem ter em conta o interesse da França. Aos 20 anos, Carlos VI conseguiu livrar-se da influência dos regentes, com a ajuda do Condestável Olivier de Clisson inimigo político dos Duques de Berry e da Borgonha. Ao mesmo tempo, cresceu o ascendente do seu irmão mais novo Luís I de Valois, que Carlos VI fez Duque de Orleans em 1392.
Em 1392, o episódio da travessia da floresta du Mans marca o início da sua loucura: acometido de pânico, teve que ser amarrado sobre uma carruagem. No ano seguinte o acidente do Bal des Ardents confirmou a doença.
Apesar de nunca ter sido particularmente astuto para a governação, fruto da sua educação desleixada, manteve uma personalidade estável até 1392, ano em que Olivier de Clisson sofreu uma tentativa de assassinato orquestrada pelo Duque João V da Bretanha.


Para defender a honra do Condestável, Carlos VI organizou uma expedição punitiva contra a Bretanha, mas a meio do caminho sofreu um ataque de demência psicótica, o primeiro sinal de porfiria e esquizofrenia ou distúrbio bipolar que o afectou até ao fim da vida. Carlos recuperou, mas por pouco tempo. A partir de então, as crises sucederam-se com intervalos de lucidez curtos e espaçados.
Quando se considerou que enlouquecera,  Luís I de Valois assumiu a regência de facto, mas foi assassinado em 1407 a mando de João Sem Medo, seu inimigo desde 1404 que tentou apoderar-se da sua pessoa, dominando o conselho do rei de 1408 a 1411, sinal da guerra civil dos Armagnacs contra os Borguinhões.


A alternância deu também lugar a uma sucessão de influências: durante os períodos em que estava são, Carlos VI favorecia os conselhos e políticas do irmão Luís, mas quando recaía era o tio Filipe da Borgonha que controlava a França. À medida que os anos passaram, o seu estado geral deteriorou-se, assim como o seu casamento. Nas fases psicóticas, Carlos VI revelava ódio imenso a Isabel da Baviera, que tentou atacar fisicamente várias vezes, e chegava a praticar tiro ao arco nos escudos de armas dela espalhadas pelo palácio. A rainha, sem se perturbar, reorganizou a sua vida em torno do cunhado Luís I de Valois, de quem se disse na época ser seu amante. Era assumido que os filhos de Isabel nascidos depois de 1396 eram filhos de Luís de Valois, Duque de Orleães.

Os últimos anos do reinado de Carlos VI foram marcados pela segunda fase da Guerra dos Cem Anos e pela invasão de França comandada por Henrique V de Inglaterra, que culminou no desastre da batalha de Azincourt. 1415, foi um ano ruim para a França: Henrique V derrotou os franceses, dizimando a nobreza francesa. As tropas inglesas ocuparam o norte do país.
Henrique V de Lancaster aproveita a loucura do rei e as querelas entre os membros do conselho da Regência, entre Armagnacs e Borgonheses, e denuncia a trégua assinada em 1396. Desembarca em 13 de Agosto de 1415 perto de Harfleur com 1.400 navios e um total de 30.000 homens. Os cavaleiros franceses, agrupados em redor da facção dos Armagnacs, vão a seu encontro para lhe cortar a estrada de Calais. Apesar da vantagem numérica de 50.000 combatentes contra 15.000, os franceses sucumbem; indisciplinados, pretendem atacar a cavalo as linhas inimigas detrás das quais estão os arqueiros ingleses. Os cavaleiros atacam os arqueiros, pesados em armaduras que pesavam 20 quilos, sem poder se deslocar a direito num solo molhado pelas chuvas. Em pânico, diante da chuva de flechas, muitos cavaleiros caem dos cavalos e são aprisionados. A maior parte dos prisioneiros, cerca de 1700 são degolados pelos arqueiros por ordem do rei inglês, que deseja exterminar a facção dos Armagnacs para reforçar seus aliados borgonheses. Os ingleses não os querem vivos, para trocar por resgate como era costume feudal. As perdas são enormes, do lado francês morrem 10 mil homens, contra 1.500 do lado inglês. Azincourt é uma das batalhas mais mortíferas da Idade Média.

Vitorioso, Henrique V aproveitará para tomar a Normandia.
Em Paris, há enorme descontentamento contra a gente de Bernardo VII que faz reinar o terror como nunca antes o tinham feito os Borguinhões. Em 29 de Maio de 1418, um violento motim expulsa os Armagnacs, milhares são massacrados, o próprio conde é cortado em pedaços. O Delfim Carlos foge, graças ao Preboste (antigo nome do comandante militar) da capital.
Com o título de regente, continuará a luta contra os ingleses à testa do que resta do partido armagnac. Paris, sem remédio, submete-se de novo aos Borgonheses. Triunfam João Sem Medo e seus aliados ingleses. O duque manobra o pobre rei de França, Carlos VI, e sua mulher Isabeau. Ao mesmo tempo, inquieto com a pressão dos ingleses, o duque tenta se reconciliar-se com o delfim Carlos, herdeiro do trono e que viria a ser coroado com a presença de Joana D’Arc.

O encontro transformou-se em drama pois João Sem Medo é assassinado na presença do Delfim em Montereau a 10 de Setembro de 1419. O novo duque da Borgonha, Filipe o Bom, querendo vingar-se, não hesita mais em se aliar aos ingleses.
Carlos VI já praticamente não tinha contacto com a realidade e estava confinado aos seus aposentos, o que deixou o país entregue às lutas entre João da Borgonha e o Conde Bernardo de Armagnac.
O poderoso duque da Borgonha, João Sem Medo, e o herdeiro do trono, o delfim Carlos, como já se referiu encontraram-se em 10 de Setembro de 1419 sobre uma ponte que atravessa o rio Yonne, em Montereau. Ambos desejavam vencer os ingleses, que dominavam a França depois da sua vitória em Azincourt e já tinham ocupado o ducado da Normandia. João era o chefe do Partido borgonhês e o delfim, chefe do partido armagnac. Depois de sangrentas escaramuças, armagnacs e borguinhões pareciam dispostos a dar fim à sua rivalidade que ameaçava arruinar a monarquia dos Valois, em benefício do rei Henrique V da Inglaterra. Em 19 de Setembro, um Te Deum em Paris celebra sua reconciliação. Mas os companheiros do delfim guardam rancor pelo duque, pelo assassinato de Luís I de Valois, duque de Orleans, doze anos antes.

Um deles ataca João Sem Medo com um machado, na própria presença do delfim. O assassinato reaviva a querela entre os Armagnacs e os Borguinhões, prejudicando a França, e permitindo aos ingleses negociar o infame tratado de Troyes com Isabeau da Baviera e o seu marido, o infeliz rei louco. Em 1420, Carlos VI foi trazido a público para assinar o Tratado de Troyes que deserdava o Delfim Carlos, seu filho putativo, a favor de Henrique V. Morreu dois anos depois e foi sucedido por Carlos VII, dada a intervenção de Joana d'Arc.
Pelo Tratado de Troyes acertou-se o casamento de Henrique V com Catarina de Valois, filha de Carlos VI e Isabel, e a subida do casal ao trono por morte de Carlos VI, sem contar com o Delfim Carlos. Desde Junho de 1419, o delfim escapara de Paris para Bourges, onde convocou a ajuda dos escoceses. Chegaram soldados da Escócia sob o comando do duque de Albany, do Earl of Douglas e Sir John Stuart, lord de Darnley. Por cinco anos, forneceram ao delfim o apoio indispensável para que assumisse o trono como Carlos VII, e resistisse aos ingleses.

Morto Carlos VI em 1422, a viúva Isabel, famosa pela ligeireza de costumes, não hesitou em colocar em dúvida a legitimidade do próprio filho, e reconheceu como rei da França o rei da Inglaterra Henrique V, com o qual tinha casado a sua filha Catarina. A França passou a ter dois reis legítimos. O jovem Henrique V deduzia a sua legitimidade do Tratado de Troyes; reinava sobre Paris e o norte da França, fazendo-se representar por seu tio, João de Lancaster, duque de Bedford. Tem o apoio da Igreja, da Universidade e do povo de Paris, e é aliado ao poderoso partido borgonhês. Quanto a Carlos VII de Valois, apelidado o pequeno rei de Bourges, reina apenas sobre o centro e o sul, terra d´oc. Não tem dinheiro, nem apoio, além de alguns armagnacs e mercenários de toda sorte; os seus cortesões se quereriam e está a beira de renúncia, ao encontrar Joana d´Arc em 1429.
A guerra entre os ingleses e Carlos VII terminará apenas pela batalha de Castillon, perto de Bordeaux, em 17 de Julho de 1453. A querela terá por final a luta entre Luís XI, filho de Carlos VII, e Carlos o Temerário, duque da Borgonha, filho de Filipe o Bom. A morte do duque em 1477 e a anexação do ducado da Borgonha ao reino de França serão o epílogo.