SEM GRILHETAS NEM SENSURA

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PORTAL DE AGOSTINHO DA SILVA

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O FILOSOFO DE PORTUGAL

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

DA EUROPA MEDIEVAL ATÉ AO NOVO MUNDO


Ao crescimento em termos económicos e demográficos que a Europa sentira após o ano mil, seguiu-se um violento abalo desta estrutura a partir de finais do século XIII que só findaria no século XV. Trata-se de um período marcante, pois significa o advento do Renascimento e o aparecimento do Estado moderno. A fisionomia da Europa modifica-se em consequência das fomes, pestes e guerras que agitaram os poderes tradicionais e fizeram emergir novas formas de poder no Velho Continente, enquanto se perdia o último vestígio da Antiguidade com a queda do Império Romano do Oriente em 1453, com tomada de Constantinopla pelos turcos.

A crise começou a sentir-se no mundo rural, onde as crises de subsistência se tornaram comuns. Tal facto deveu-se a sucessivas alterações climáticas as quais diminuíram drasticamente a produção de alimentos numa Europa sob forte pressão demográfica devido ao surto de progresso após o ano mil. Como não era possível recorrer a importações nem era grande o número de excedentes, a fome foi uma consequência imediata e depois única, tendo sido particularmente grave durante o período de 1315 a 1317. Além das vítimas mortais, a carestia trouxe também o enfraquecimento das defesas do organismo, facilitando a disseminação das doenças.

A grande praga foi a peste bubónica, conhecida como Peste Negra. Chegou à Europa em 1347 através de barcos genoveses vindos da Crimeia. A peste que tempos antes assolara a Ásia chegava por via da rota da seda e atacava os comerciantes italianos. Em pouco tempo, devido às pulgas dos ratos e à insalubridade das cidades, a doença alastrou-se a toda a Europa, difundida no sentido dos ponteiros do relógio pelos comerciantes mediterrânicos em toda a Europa. Estima-se que terá morrido cerca de um quarto ou um terço da população europeia. Esta doença, diferentemente da fome, a todos atingiu, sem distinção de condição social. Em consequência assistiu-se a uma desorganização das estruturas urbanas e à desorganização do poder político e religioso.

Paralelamente, a Europa era flagelada por várias guerras. Um dos motivos de guerra era a posse dos grandes espaços políticos e económicos, o que está na origem da Guerra dos Cem Anos (1337-1453) hegemonia na Europa do Noroeste; da guerra entre italianos e aragoneses pela posse do Mediterrâneo ocidental; e dos conflitos pelo domínio do Báltico, entre a Hansa e os reinos escandinavos da Suécia ou Dinamarca. Por outro lado, dentro de cada uma destas forças verificavam-se querelas pelo poder que se traduziam em guerras civis como a Guerra das Duas Rosas (1455-1485) em Inglaterra, ou os confrontos entre os reinos ibéricos e mesmo entre as cidades italianas entre Guelfos e Gibelinos. O terceiro foco bélico era a guerra da cristandade contra os Turcos, que avançavam em força sobre a Europa, conseguindo por fim conquistar Constantinopla em 1453, concretizando-se um velho sonho islâmico de posse daquela cidade cristã.

Como consequência deste quadro convulsivo dão-se crises sociais, primeiro, provocadas pelo mal-estar dos camponeses, famintos e descontentes com a situação provocada pela baixa dos preços dos cereais e da terra, que significava um abaixamento do consumo e também da mão-de-obra disponível. O seu desagrado degenerou em revoltas como a dos flamengos em 1302, a dos jacques, liderada por Etienne Marcel, de 1356 a 1358, a dos ciompi em 1378, em Florença, ou a dos peasants ingleses, em 1381, liderada por Wat Tyler (jaquerie).

Os motins urbanos também foram bastante violentos, expressando o descontentamento dos mais pobres face ao aproveitamento das elites burguesas. A par destas revoltas sociais foi sentido um desconforto religioso notório no Cisma do Ocidente (1378-1415), que dividiu a cristandade e significou a perda de força por parte do papado.
Em termos económicos, a crise traduziu-se numa desertificação progressiva dos campos, combatida das mais diferentes formas: na Europa de Leste, reforçou-se a servidão; no Sul, optou-se pela criação de grandes domínios vocacionados para a pastorícia e transumância (como Mesta em Castela); na Inglaterra iniciam-se as enclausures.

Este empobrecimento fatal do campo veio dar definitivamente poder às cidades, que se haviam destacado pela sua resistência e organização face às adversidades, valorizando-se pelo fluxo de populações campesinas e pela protecção dos príncipes, o que fez dos séculos XI e XII o tempo do "renascimento" das cidades.
A par do mundo rural, também as estruturas comerciais e artesanais sofreram rudes golpes. O comércio no Mediterrâneo decaiu com o avanço dos Turcos; a Guerra dos Cem Anos antecipou o declínio das feiras de Champagne, grande ponte de contacto terrestre entre o Norte e o Sul da Europa; as manufacturas têxteis flamengas foram suplantadas pelas inglesas ou italianas.

Os novos eixos de comércio eram agora dominados pela Hansa alemã (ou liga Hanseática), desenvolvendo-se as feiras e mercados financeiros do Norte da Europa, agrupando-se, em torno dessa associação comercial, os mercados eslavos e os têxteis ingleses. O mercado estava agora nas mãos de alemães e italianos, de onde provinham sedas, fustões (tecidos de lã), minérios, com o apoio de uma poderosa indústria naval. Entretanto, portugueses e castelhanos lançavam-se nos descobrimentos em busca de alternativas ao ouro e especiarias em mãos muçulmanas, iniciando-se de forma decisiva uma nova era na vida do continente europeu com a descoberta dos caminhos marítimos do novo mundo.


domingo, 23 de janeiro de 2011

JEANNE D'ARC ET LA GUERRE DE CENT ANS

A Guerra dos Cem Anos identifica uma série de conflitos armados, registados de forma intermitente, durante os séculos XIV e  XV, nos anos de 1337 a 1453, de acordo com as datas convencionais mas, na realidade, perdurou por 116 anos, envolvendo a França e a Inglaterra numa guerra sangrenta.  
A longa duração desse conflito explica-se pelo grande poderio dos ingleses de um lado e a obstinada resistência francesa do outro. Foi a primeira grande guerra europeia que provocou profundas transformações na vida económica, social e política da Europa Ocidental.

A França foi apoiada pela Escócia, Boémia, Castela e pelo Papado de Avignon.
A Inglaterra teve por aliados os flamengos, alemães e Portugal.
A questão dinástica que desencadeou a chamada “Guerra dos Cem Anos”, (termo convencionado no século XIX) ultrapassou o carácter feudal das rivalidades político-militares da Idade Média e marcou o teor dos futuros confrontos entre as grandes monarquias europeias.

No início do século XIV, parte do reino da França, drenado de grandes bacias fluviais e desfrutando de um clima favorável para a agricultura, florescia, com os seus dezassete milhões de habitantes, a primeira potência em termos demográficos da Europa. A sociedade agrícola baseava-se num sistema feudal e religioso muito hierarquizado. A produção agrícola era capaz de alimentar a população e não havia mais fome desde o século XII, necessitando o povo da nobreza para defender a terra.

O clero desempenhava um importante papel social na organização da sociedade, era alfabetizado e detinha o talento da aritmética e a hábil gestão das instituições; os religiosos administravam as organizações de caridade e das escolas pelo que, somando os feriados religiosos - poder clerical - contava-se cento e quarenta dias anuais.
Desde que o Duque da Normandia, Guilherme, o Conquistador, se apoderou da Inglaterra em 1066 e os monarcas ingleses passaram a controlar extensas terras no território francês, com o tempo passaram a ser os senhores e donos de vários ducados franceses: Aquitânia, Gasconha, Poitou, Normandia, entre outros. Os duques, apesar de vassalos do rei francês, acabaram por se tornar seus rivais feudais.
Quando a França tentou recuperar os territórios perdidos para a Inglaterra, originou-se um dos mais longos e sangrentos conflitos da história da humanidade: a Guerra dos Cem Anos, que durou na realidade, como já se disse, 116 anos e que provocou milhões de mortes e a destruição de quase toda a França setentrional.


A guerra dos 100 anos teve início em 1337. Os interesses mais que evidentes de unificar as coroas concretizaram-se após a morte do rei francês Carlos IV. 
Em 1328,  Filipe VI, sucessor ao trono, graças à lei, sálicas, que impedia mulheres ou descendentes por via feminina de subirem ao trono, regulavam todos os aspectos da vida em sociedade.
Carlos IV não tinha descendentes masculinos, foi proclamado rei da França a 21 de Fevereiro 1322 e faleceu de tuberculose em 27 de Maio de 1328.
Filipe VI, de Valois, cognominado "O Afortunado", morto em  Nogent-le-Rotrou, foi Rei de França de 1328 até à sua morte, o primeiro da dinastia de Valois que ficaria até 1498 no trono.
Ganhou os apelidos da posteridade “le vrai catholique; le fortuné; le roi trouvé; le roi salique”, reclamou, em 1337, o feudo da Gasconha ao rei inglês Eduardo III e no dia 1 de Novembro, este respondeu-lhe colocando-se às portas de Paris mediante o bispo de Lincoln, declarando que era o candidato adequado para ocupar o trono francês.
A Inglaterra ganharia algumas batalhas como a de Crécy em 1346 e a de Poitiers em 1356.

Uma grave enfermidade do rei francês, Filipe VI, originou uma luta pelo poder entre o seu primo João I de Borgonha ou João sem Medo e o irmão de Carlos VI, Luís de Orléans.
No dia 23 de Novembro de 1407, nas ruas de Paris e por ordem do borguinhão, cometeu-se o assassinato de Luís de Orléans.
A facção dos Borguinhões era o partido de João, Duque da Borgonha, dito João sem Medo (Jean sans Peur), oposto à facção dos Armagnacs, partidários de Luís, Duque d'Orleães.

A guerra civil entre Armagnacs e Borguinhões teve início a 23 de Novembro de 1407, quando o Duque d'Orleães foi assassinado, por ordem de João sem Medo. O conflito debilitou enormemente a França, já em luta contra a Inglaterra, na Guerra dos Cem Anos. A guerra entre Armagnacs e Bourguignons só terminará quase trinta anos depois, com a assinatura do Tratado de Arras de 1435. João sem Medo também será assassinado, em 1419, pelos Armagnacs.
A família real francesa estava dividida entre os que davam suporte ao duque de Borgonha, os borguinhões, e os que o davam ao de Orléans e depois a Carlos VII, Delfim de França, armagnacs ligados à causa de Orléans e à morte de Luís. Com o assassinato do armagnac Luís de Orléans, ambas as partes confrontaram-se numa guerra civil, onde buscaram o apoio dos ingleses. Os partidários do Duque de Orléans, Jean Sans Peour; em 1414, viram recusada uma proposta feita aos ingleses mas, finalmente, pactuaram com os borguinhões.

Joana d'Arc, em francês Jeanne d'Arc, nascida em Domrémy-la-Pucelle possivelmente em Janeiro 1412 , por vezes chamada de donzela de Orléans, era filha de Jacques d'Arc e de Isabelle Romée e é agora a santa padroeira da França. Foi uma heroína da Guerra dos Cem Anos, durante a qual tomou partido pelos Armagnacs, na longa luta contra os borguinhões e aos seus aliados ingleses.
Descendente de camponeses, gente modesta e analfabeta, foi uma mártir francesa canonizada em 1920, quase cinco séculos depois de ter sido queimada viva em Ruão a 30 de Maio de 1431.
François Villon, nascido em 1431, no ano da sua morte evoca Joana, a sua lembrança na bela “Ballade des Dames du temps jadis” ou seja, Balada das damas do tempo passado:



Joana d'Arc nasceu em Domrémy, na região de Lorraine, posteriormente cidade renomeada como Domrémy-la-Pucelle em sua homenagem, pucelle cuja tradução é donzela (moça virgem) em português. A data do seu nascimento é imprecisa, de acordo com o seu interrogatório em 24 de Fevereiro de 1431, Joana teria dito na época que tinha 19 anos, portanto teria provavelmente nascido em 1412. Não se sabe a idade correcta de Joana pois naquela época, sem haver censo popular, não se importavam com a idade exacta e por isso o termo certo a usar seria "mais ou menos". Joana declarou uma vez, quando perguntada sobre a sua idade: "tenho 19 anos, mais ou menos".
Filha de Jacques d'Arc e de Isabelle Romée, tinha mais quatro irmãos: Jacques, Catherine, Jean e Pierre, sendo ela, Jeanne, a mais nova dos irmãos. O Seu pai era agricultor e a sua mãe ensinou às filhas todos os afazeres das meninas da época, como fiar, costurar, a lida doméstica, a adoração a Deus e a obediência ao homem como chefe da família.  
Joana era muito religiosa, devota, e costumava fugir do campo para ir orar na igreja da sua cidade; confessava-se e obedecia aos mandamentos.

No seu julgamento, inquisitorial, Joana afirmou que desde os treze anos ouvia vozes divinas. Segundo ela, a primeira vez que escutou a voz, disse, vinha da direcção da igreja e acompanhada por um clarão causara-lhe uma sensação de medo. Dizia que às vezes não as entendia muito bem e que as ouvia duas ou três vezes por semana. Entre as mensagens que ela entendeu, estavam conselhos para frequentar a igreja; que deveria ir a Paris levantar o domínio que havia na cidade de Orleães. Posteriormente ela identificaria as vozes como sendo do arcanjo São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e de Santa Margarida.
Aos 16 anos, Joana foi a Vaucouleurs, cidade vizinha a Domrèmy. Recorreu a Robert de Baudricourt, capitão da guarnição de armagnac estabelecida em Vaucouleurs para lhe ceder uma escolta até Chinon, onde estava o Delfim, pois teria que atravessar todo o território hostil defendido pelos aliados ingleses e borguinhões de João sem medo.

Quase um ano depois, Baudricourt aceitou enviá-la, escoltada, até ao Delfim. A escolta iniciou-se aproximadamente em 13 de Fevereiro de 1429. Entre os seis homens que a acompanharam estavam Poulengy e Jean Nouillompont, conhecido como Jean de Metz que esteve presente em todas as batalhas de Joana d'Arc.
Vestindo roupas masculinas até à sua prisão, Joana atravessou terras dominadas por Borguinhões de João, chegando a Chinon, onde finalmente se encontrou com Carlos, após a apresentação de uma carta enviada por Baudricourt. Chegando a Chinon, Joana já dispunha de uma grande popularidade, porém o Delfim tinha ainda desconfianças e decidiram passá-la por algumas provas. Segundo a lenda, com medo de apresentarem o Delfim diante uma desconhecida que talvez quisesse matá-lo, decidiram misturar Carlos numa sala cheia de nobres para recebê-la.

Joana reconheceu o rei disfarçado entre os nobres sem que antes o tivesse visto. Joana teria ido até ao verdadeiro rei, curvou-se e disse:  "Senhor… vim para conduzir os vossos exércitos à vitória".
Sozinha na presença do rei, Joana convenceu-o a entregar-lhe um exército com o intuito de libertar Orléans, porém, o rei ainda a fez passar por outras provas sob os teólogos reais. As autoridades eclesiásticas em Poitiers submeteram-na a um exaustivo interrogatório para averiguar as suas intenções e, sob exame directo à sua virgindade, importante pormenor para quem trazia mensagem divina.
Convencido do discurso de Joana, o rei entregou-lhe nas mãos uma espada, um estandarte e o comando das tropas francesas, para seguir rumo à libertação da cidade de Orléans, invadida e tomada pelos ingleses há oito meses. Há a versão de que Joana pediu um sinal às vozes e que terá encontrado uma espada abandonada no campo. Espada esta que a terá sempre acompanhado. 

Munida de uma bandeira branca, Joana chega a Orléans em 29 de Abril de 1429, comandando um exército de 4000 homens, conseguindo a vitória sobre os invasores, no dia 9 de Maio de 1429. O episódio é conhecido como a Libertação de Orléans, “Le Siège d'Orléans”. Os franceses já haviam tentado defender Orléans sem sucesso. Existem histórias paralelas a esta que informam que a figura de Joana era diferente. Ela teria chegado para a batalha sobre um cavalo branco, armadura de aço reluzente e segurando um estandarte com a cruz de Cristo, circunscrita com o nome de Jesus e Maria. Segundo outra versão, Joana teria sido apenas arrastada pelo fascínio sobrenatural dos seus sonhos com a proposta da missão a cumprir, segundo a vontade divina e, sem saber nada sobre arte da guerra, comandou com ar angelical os soldados rudes que na sua presença não se atreviam a falar mal ou a praticar inconveniências. Ela apresentava-se extremamente disciplinada e organizada, ajudada por Jean Nouillompont.

Após a libertação de Orléans, os ingleses pensaram que os franceses iriam tentar reconquistar Paris ou a Normandia, mas ao invés disso, Joana convenceu o Delfim a iniciar uma campanha sobre o rio Loire. Isto já era uma estratégia de Joana para conduzir o Delfim a Ruão. Joana dirigiu-se a vários pontos fortificados, sobre pontes do rio Loire. Em 11 e 12 de Junho de 1429 venceu a batalha de Jargeau. No dia 15 de Junho foi a vez da batalha de Meung-sur-Loire. A terceira vitória foi na batalha de Beaugency, nos dias 16 e 17 de Junho do mesmo ano. Um dia após a sua última vitória dirigiu-se a Patay, onde a sua participação foi pouca. A batalha de Patay a única em campo aberto, já se desenrolou sem a presença de Joana d’Arc.
Cerca de um mês após a sua vitória sobre os ingleses em Orléans, Joana conduziu Carlos à cidade de Reims, onde, como Carlos VII Rei de França foi coroado em 17 de Julho de 1429.

A vitória de Joana d'Arc e a coroação do rei acabaram por reacender a esperança dos franceses de se libertarem do domínio inglês.
O caminho até Reims era considerado difícil, já que várias cidades estavam sob o domínio dos borguinhões adversários. Porém, a fama de Joana tinha-se estendido por boa parte do território e fez com que o exército do Delfim fosse temido. Assim, Joana passou sem problemas por sucessivas cidades como Gien, Saint Fargeau, Mézilles, Auxerre, Saint Florentin e Saint Paul. Desde Gien, foram enviados convites a diversas autoridades para assistir à consagração do Delfim. Em Auxerre chegou-se a temer alguma resistência por parte de uma pequena tropa inimiga que se encontrava na cidade. Após três dias de negociações foi possível por lá passar sem qualquer problema. O mesmo aconteceu em Troyes, onde as negociações duraram cinco dias. A chegada a Ruão ocorreu a 16 de Julho.

Sabe-se que no dia da consagração definitiva do rei francês em Ruão, cuja cerimónia isenta de esplendor, dadas as circunstâncias da guerra, Joana assistiu à cerimónia numa posição privilegiada, exibindo o seu estandarte.
Teoricamente Joana mais não tinha a fazer no exército, havia cumprido a sua promessa e acatado correctamente as ordens que as vozes lhe deram. Mas ela, como muitos outros, viu que enquanto a cidade de Paris estivesse tomada pelas tropas inglesas, dificilmente o novo rei poderia ter claramente o controlo do reino de França. No mesmo dia da coroação, chegaram emissários do Duque de Borgonha que iniciaram as negociações para se chegar à paz, ou à trégua, cujo pacto se efectivou. Não foi a paz que Joana desejava, mas pelo menos ela a assistiu durante quinze dias. A trégua não foi gratuita, já que houve outros interesses políticos ocultos. Carlos VII necessitava de tomar Paris para exercer a sua autoridade de rei mas não queria criar uma imagem ruim com uma conquista violenta de terras que passariam a ser do seu domínio. Foi isto que o motivou a firmar tréguas com o Duque de Borgonha. Terá sido uma necessidade de ganhar tempo!?

Durante a trégua, Carlos VII levou o seu exército até Île-de-France  (região francesa que abrigava Paris). Houve alguns confrontos entre os armagnacs e a aliança inglesa com os borguinhões. Os ingleses abandonaram Paris dirigindo-se a Rouen (Ruão). Restava então derrotar os borguinhões que ainda ficaram em Paris e na região.
Joana foi ferida por uma flecha durante uma tentativa de ocupar Paris. A moral do Rei e das tropas ficaram afectadas e isto acelerou a decisão do rei de bater em retirada no dia 10 de Setembro. Com o incidente o rei francês não expressava a intenção de abandonar definitivamente a luta, mas optou por pensar em defender a ideia de conquistar a vitória mediante a paz, com tratados ou outras oportunidades do futuro.
Na primavera de 1430, Joana d'Arc retomou a campanha militar e passou a tentar libertar a cidade de Compiègne, onde acabou sendo dominada e capturada pelos borguinhões e seus aliados ingleses.

Foi presa em 23 de Maio do mesmo ano e, entre os dias 23 e 27 foi conduzida à Beaulieu-lès-Fontaines. Joana foi entrevistada entre os dias 27 e 28 pelo próprio Duque de Borgonha e, a partir daquele momento, passou a ser considerada propriedade do Duque. Joana foi levada ao Castelo de Beaurevoir, onde permaneceu todo o verão, enquanto o duque  negociava a sua venda aos ingleses e, por isso, Joana foi transferida para Ruão.

A infanta D. Isabel, filha de D. João I de Portugal, duquesa de Borgonha, em cuja honra foi instituída, por Filipe o Bom, a Ordem do Tosão de Ouro, em celebração do casamento de ambos, em Janeiro de 1430, em terceiras núpcias de Filipe. Por ocasião da chegada de Isabel ao ducado, poderá ter sido ela a impulsionadora da perseguição a Joana D'Arc. Não só como Infanta de Portugal, aliada da Inglaterra e de Borgonha, mas porque Joana D'Arc a submetera a um cerco quando chegou a Borgonha. Implacável como se viu e bem assim pela sua atitude perante o seu irmão o Infante D. Henrique, que considerava adversário e "traidor" de Alfarrobeira, não desistiu enquanto Joana D'Arc não pagou pela insolência com a própria vida.

Joana foi presa numa cela escura e insalubre, vigiada por cinco homens. Em contraste ao bom tratamento que recebera na sua primeira prisão, Joana vivia agora os seus piores tempos e dúvidas imputadas pelos seus inquiridores sobre a verdadeira origem divina dos seus intentos. Também Joana teve dúvidas quando pela primeira viu os mortos e os feridos resultantes na sequência da batalha.   
O processo contra Joana teve início a 9 de Janeiro de 1431, sendo chefiado pelo bispo de Beauvais e Pierre Cauchon. Foi um processo inquisitorial que passaria à posteridade e que converteria Joana em heroína nacional, pelo modo como se desenvolveu e trouxe o final da jovem e da lenda para a imortalidade intemporal e que ainda nos dias de hoje mescla realidade e fantasia. Dez sessões inquisitoriais foram feitas sem a presença da acusada, apenas com a apresentação de provas, que culminaram com a acusação de heresia e assassinato.  
No dia 21 de Fevereiro Joana foi ouvida pela primeira vez. A princípio ela recusou o "juramento da verdade", mas logo acabou por o fazer, assinando uma declaração. Joana foi interrogada sobre as vozes que ouvia, sobre a igreja militante, sobre os seus trajes masculinos, outros juízos e dogmas.

No dia 27 e 28 de Março, Thomas de Courcelles fez a leitura dos 70 artigos da acusação de Joana, que depois foram resumidos a 12, mais precisamente no dia 5 de Abril. Estes artigos sustentavam a acusação formal para a donzela, buscando a sua condenação. No mesmo dia 5, Joana começou a perder saúde por causa suspeita de ingestão de alimentos venenosos que a fez vomitar. Isto alertou Cauchon e os ingleses, que lhe trouxeram um médico. Queriam mantê-la viva, principalmente os ingleses, porque planeavam executá-la em público.
Durante a visita de Jean d’Estivet, cónego de Beauvais, acusou ardilmente Joana de ter ingerido os alimentos envenenados, consciente, para cometer suicídio. No dia 18 de Abril, quando finalmente ela se viu em perigo de morte, pediu para se confessar e receber os sacramentos.
Os ingleses impacientavam-se com a demora do julgamento. O Conde de Warwick disse a Cauchon que o processo estava muito demorado. Até o primeiro proprietário de Joana, Jean de Luxemburgo, apresentou-se a Joana fazendo-lhe a proposta de pagar pela sua liberdade, se ela prometesse não atacar mais os ingleses. Joana esperou pela intervenção do Rei, em seu auxílio, que nunca chegou. A partir do dia 23 de Maio, os procedimentos aceleraram-se e no dia 29 de Maio ela foi condenada por heresia.

Joana foi queimada viva a 30 de Maio de 1431, com apenas dezanove anos (quatro anos antes do 1º tratado de Arras que deu início ao fim da guerra civil). A cerimónia da execução aconteceu na Praça de Ruão, dans la  Place du Vieux Marché, às 9 horas.
Antes da execução ela confessou-se a Jean Totmouille e a Martin Ladvenu, que lhe administraram os sacramentos da Comunhão. Entrou, vestida de branco, na praça cheia de gente, e foi colocada na plataforma construida para a sua execução. Após lerem o seu veredicto, Joana foi queimada viva. As suas cinzas foram lançadas no rio Sena, para que não se tornassem objecto de veneração pública. Foi assim o fim da heroína francesa.

A revisão do seu processo começou a partir de 1456, quando foi considerada inocente pelo Papa Calisto III, e o processo que a condenou foi considerado inválido. Em 1909 a Igreja Católica autorizou a sua beatificação e em 1920, Jeanne d'Arc foi canonizada pelo Papa Bento XV.
Jeanne d'Arc usava roupas masculinas desde o momento da sua partida de Vaucouleurs até à sua abjuração em Rouen. Isto motivou debates teológicos na sua época e levantou outras questões também no século XX. A razão técnica para a sua execução foi uma lei sobre roupas bíblicas. O segundo julgamento reverteu a condenação em parte porque o processo de condenação não tinha considerado as excepções doutrinárias referentes a esse texto.
Em termos de doutrina, ela era prudente ao disfarçar-se como escudeiro; durante uma viagem através de território inimigo era cautelosa ao usar armadura durante as batalhas. La Chronique de la Pucelle afirma que isso dissuadiu o abuso sexual, enquanto ela estava acampada nas batalhas. O clérigo que testemunhou no seu segundo julgamento afirmou que ela continuava a vestir roupas masculinas na prisão para impedir assédios e estupro por parte dos que a retinham. A preservação da castidade foi outro motivo justificável para travestir-se. As suas roupas teriam afastado um assaltante, diz-se... e os homens estariam menos propensos a pensar nela como um objecto sexual, em qualquer caso.