A Campanha da Rússia foi uma gigantesca operação militar intentada pelos franceses e seus aliados, sob o comando directo de Napoleão Bonaparte em 1812, e que teve grande impacto sobre o desenrolar das chamadas Guerras Napoleónicas, marcando o início do declínio do Primeiro Império Francês.
Foi orquestrada com o objectivo de punir a Rússia, que havia quebrado a determinação de Bonaparte de nenhum país manter relações comerciais com a Inglaterra, o chamado Bloqueio Continental; ao mesmo tempo que forçando um pedido de rendição do czar, a França subjugaria toda a Europa continental.
As forças de invasão, ao final, foram reduzidas a 2% do seu contingente inicial. A invasão provocou profundas mudanças no panorama social e político dos países envolvidos, gerando grandes movimentos migratórios, bem como revolucionárias reviravoltas nos panoramas estabelecidos nas operações militares.
Um paralelo pode ser feito com a invasão alemã de 1941-1945, durante a Segunda Guerra Mundial.
É esclarecedor sobre a terrífica retirada, este texto da obra do historiador e escritor J. Lucas-Dubreton:
“Nas estradas geladas, luzidias como espelhos, os cavalos tombavam, obrigando-os a abandonar as carroças que transportavam o tesouro. Do norte chegava um vento gelado, capaz de queimar; o cano do fuzil grudava nas mãos, a pele inchava, cheia de bolhas; e as extremidades dos dedos, duras e descoradas, pareciam bolas de marfim. Cobertos de andrajos, os olhos injectados, o rosto tumefacto, infestados de vermes - fazia três meses que não trocavam de farda nem de roupa de baixo -, os antigos vencedores da Europa lutavam contra a agonia. Se adormecessem, era a morte; se resistissem, se um passante os arrastasse um pouco mais adiante, ela estava apenas adiada. Os mais fracos morriam primeiro, o sangue na boca e, antes mesmo que expirassem, os seus camaradas já os haviam despido. Neste oceano de barbárie, nunca há-de ter havido semelhante trajectória de cadáveres na extensão da que seguiram os que fizeram essa campanha; eles estão em todos os cantos, em todas as estradas, frescos e velhos. A natureza humana, exaurida, desgastada pelo sofrimento, punha a sua trama a nu, a sua fibra fundamental; já não havia hierarquia nem disciplina; só um egoísmo feroz; todos curvados sob o mesmo nível de miséria. A própria velha guarda tinha perdido a bela compostura, e Napoleão viu-se obrigado a chamá-la à ordem: "Não dêem ouvidos a esses fracos que a desgraça abate e que não sabem sofrer. Façam justiça, pelas próprias mãos, com aqueles que, dentre vocês, saírem da fila durante a marcha; estabeleçam uma disciplina interior em cada companhia, e os homens que se comportarem mal sejam apedrejados pelos camaradas".
Toda a história da campanha napoleónica na Rússia gerou a famosa obra literária Guerra e Paz de Leon Tolstoi; escrita ainda na segunda metade do século XIX, eternizando dezenas de passagens da campanha, a maioria verídicas. A derrota inicial da Rússia e sua vitória final também são lembrados na Abertura 1812 de Tchaikovsky - Pyotr Ilyich:
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