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sábado, 16 de julho de 2011

OS PRIMÓRDIOS DO CRISTIANISMO (vídeo)


Os Pergaminhos ou Manuscritos do Mar Morto formam uma colecção de cerca de 930 documentos descobertos entre 1947 e 1956 em onze cavernas próximo de Qumran, uma fortaleza situada a noroeste do Mar Morto, em Israel, que em tempos históricos foi uma parte da Judeia. Estes documentos foram escritos entre o século III a.C. e o primeiro século depois de Cristo, em Hebraico, Aramaico e grego. A maior parte desses documentos consiste em pergaminhos, sendo uma pequena parcela de papiros e, um deles, gravado em cobre. Os manuscritos do Mar Morto foram classificados em três grupos: escritos bíblicos e comentários, textos apócrifos e literatura de Qumram, Khirbet Qumran, “ruína da mancha cinzenta”.


Os textos são importantes por serem mil anos mais antigos do que os registos do Velho Testamento conhecidos até então e por oferecerem uma vasta documentação inédita sobre o período em que foram escritos, revelando aspectos desconhecidos do contexto político e religioso nos tempos do nascimento do Cristianismo e do judaísmo rabínico. Os pergaminhos contêm pelo menos um fragmento de todos os livros das escrituras hebraicas, excepto o livro do Livro de Ester que é um dos livros históricos do antigo testamento da Bíblia, vem depois do Livro de Neemias e antes do Livro de Jó.
O Livro de Neemias ou II de Esdras é um livro da Bíblia hebraica e do Antigo Testamento da Bíblia cristã, vem depois do Livro de Esdras e antes do Livro de Ester, tido historicamente como uma continuação do Livro de Esdras, e por vezes chamado até mesmo se "o segundo livro de Esdras".


Os Pergaminhos do Mar Morto, além de fragmentos bíblicos, contêm regras da comunidade, escritos apócrifos, filactérios, calendários e outros documentos. A autoria desses documentos é até hoje desconhecida mas, com base em referências cruzadas com outros documentos históricos, ela é atribuída aos essénios.
Os essénios constituíam um grupo ou seita judaica ascética que teve a sua existência desde cerca do ano 150 a.C. até ao ano 70 d.C.; estavam relacionados com outros grupos religiosos e políticos, como os saduceus seita ou partido de que é ainda difícil determinar a origem, sabendo-se que existiu nos últimos dois séculos do Segundo Templo, em completa discórdia com os fariseus.


O nome essénio provém do termo sírio asaya, e do aramaico (língua de Jesus) essaya ou essenoí, todos com o significado de médico, passa por orum judaico, do grego therapeutés (terapeuta). Aramaico é a designação que recebem os diferentes dialectos de um idioma com alfabeto próprio e com uma história com mais de três mil anos, utilizado por povos que habitavam o Médio Oriente; foi a língua administrativa e religiosa de diversos impérios da Antiguidade, além de ser o idioma original de muitas partes dos livros bíblicos de Daniel e Esdras, assim como do Talmude.
Pertencendo à família das línguas afro-asiáticas, é classificada no subgrupo das línguas semíticas, à qual também pertencem o árabe e o hebraico.


Durante o domínio da Dinastia Hasmonéa do Reino Hasmoneu de Israel (140 - 37 a.C.), os essénios foram perseguidos e retiraram-se, por isso, para o deserto, vivendo em comunidade e em estrito cumprimento da lei mosaica – Moisés - Os Dez Mandamentos -  bem como da dos Profetas. Na Bíblia não há menção sobre eles. Sabe-se algo a seu respeito por Flávio Josefo (historiador oficial judeu) e por Fílon de Alexandria (filósofo judeu). Flávio Josefo relata a divisão dos judeus do Segundo Templo em três grupos principais: Saduceus, Fariseus e Essénios.


O Segundo Templo foi o templo que o povo judeu construiu após o regresso a Jerusalém, findo o Cativeiro na Babilónia, no mesmo local onde o Templo de Salomão existira antes de ser destruído e que se manteve erigido entre 515 a.C. e 70 DC, tendo sido, durante este período, o centro de culto e adoração do Judaísmo.
Cativeiro Babilónico é o nome geralmente usado para designar a deportação em massa e exílio dos judeus do antigo Reino de Judá para a Babilónia por Nabucodonosor II.


Os essénios eram um grupo de separatistas, a partir do qual alguns membros formaram uma comunidade monástica ascética que se isolou no deserto. A crise que desencadeou esse isolamento do judaísmo ocorreu quando os príncipes Macabeus no poder, Jonathan e Simão, usurparam o ofício do Sumo-sacerdote, consternando os judeus conservadores. Alguns não podiam tolerar a situação e denunciaram os novos governantes. O historiador Josefo refere, na ocasião, a existência de cerca de 4000 membros do grupo, espalhados por aldeias e povoações rurais.


Era característica incondicional dos judeus essénios, dividiam-se em grupos de 12 com um lider chamado "mestre da justiça"; vestirem-se sempre de branco; acreditarem em milagres pela mão, milagres físicos e bênção com as mãos; abolirem a propriedade privada; serem todos vegetarianos; não se casarem; tomarem banho antes das refeições; comerem só o que era sujeito a rígidas regras de purificação. Eram chamados de nazarenos por causa do voto nazarita (do hebr. nezir, «consagrado» +-ita).
Eles proclamavam-se "a nova aliança" de Deus com Israel, mais tarde este mesmo termo aparece na literatura cristã como no "novo testamento" e também em grande parte nas práticas judaicas e essénicas.


Os essénios não tinham amos nem escravos. A hierarquia estabelecia-se de acordo com graus de pureza espiritual dos irmãos; os sacerdotes que ocupassem o topo da ordem, um conceito amplo que pode ser definido como uma opção de vida ou de conduta ética, moral, espiritual, social, sexual, gastronómica e humana.
Dentre as comunidades, tornou-se conhecida a de Qumran, pelos manuscritos em pergaminhos que levam o seu nome, também chamados Pergaminhos do Mar Morto ou Manuscritos do Mar Morto.


Segundo Christian David Ginsburg (historiador polaco das escrituras - 1831/1914), os essénios foram os precursores do Cristianismo, pois a maior parte dos ensinamentos de Jesus, o idealismo ético, a pureza espiritual, remetem ao ideal essénio de vida espiritual. A prática de banhar-se com frequência é fruto do ritual da Tevilah (baptismo), onde o Judeu mergulha, em certas ocasiões para se purificar, num micvê, uma piscina especial de água, com um tamanho específico cuja água deve vir de uma fonte natural: chuva ou nascente.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

TRIESTE O SÍMBOLO VIVO DA HISTÓRIA


Trieste é uma cidade do nordeste da Itália, no Mar Adriático que é uma parte do mar Mediterrâneo, um golfo muito alongado fechado ao norte que banha o norte e o leste da Itália e o oeste da península balcânica; comuna italiana da região do Friuli-Venezia Giulia, província de Trieste, com cerca de 209.520 habitantes. Estende-se por uma área de 84,49km², tendo uma densidade populacional de 2.479,8 hab/km². Faz fronteira com as comunas italianas de Duino-Aurisina, Monrupino, Muggia, San Dorligo della Vallee Sgonico e com a Eslovénia .


Trieste foi uma importante cidade do Império Austro-Húngaro, do qual era o principal porto marítimo.
Em tempos antigos (século II a.C.), Trieste tornou-se colónia romana com o nome de Tergeste, prosperou sob o domínio romano e, depois da queda do Império Romano do Ocidente, ficou sob o controle de Bizâncio até 788, quando passou ao controle dos francos.


No século XII tornou-se uma cidade livre e depois de séculos de batalhas contra a rival Veneza, Trieste pôs-se sob a protecção (1382) do duque da Áustria conservando porém uma certa autonomia até ao século XVII.
No ano de 1719 tornou-se porto franco e, como única saída para o mar do Império Austríaco, Trieste foi objecto de investimento e desenvolvimento tornando-se, em 1867, capital da região do Litoral Adriático do império. Apesar do seu estado privilegiado de único porto comercial da Cisleitana e principal porto da Áustria-Hungria, Trieste manteve sempre em primeiro plano, nos séculos, os elos culturais e linguísticos com a Itália; de facto, embora o alemão fosse a língua oficial da burocracia, o italiano, ou melhor o dialecto triestino, que no curso do século XVIII substituiu o antigo dialecto friulano, idioma da família reto-românicas falado na região do Friuli-Venezia Giulia, uma região da Itália dividida em quatro províncias:


Udine, Pordenone, Gorizia e Trieste, onde permaneceu sempre a língua falada pela maioria dos habitantes.
Trieste foi, junto com Trento, o centro do irredentismo, movimento que buscava a anexação à Itália de todas aquelas terras habitadas há séculos por populações de cultura italiana ou itálica, mas que ainda não faziam parte da Itália da época (terras irredentas”). Trieste, Gorizia, Ístria e Dalmácia, viviam, e vivem ainda hoje, como também outras populações étnicas de eslovenos e croatas. Em 1918, depois da Primeira Guerra Mundial, Trieste e a sua província foram anexadas à Itália com grande alegria e festa da população italiana ainda que aquele momento coincida com a perda de importância da cidade que, de segunda cidade e porto mais importante de um império, se torna uma das tantas cidades medianamente importantes da Itália. Começaram, então, para a população eslovena e croata, tentativas de nacionalização e de absorção cultural pela parte italiana. Nasceu assim nesta terra o assim chamado "Fascismo de fronteira", precursor daquilo que seria depois o fascismo a nível nacional.


No período que vai do Armistício com a Itália, assinado em 3 de Setembro de 1943 e a declaração publica, cinco dias depois, durante a Segunda Guerra Mundial, entre a Itália e as forças armadas Aliadas, que foram, então, ocupando o extremo sul do país, sem o que implicaria a  capitulação da Itália, é também conhecido na Itália como o Armistizio di Cassibile a partir do local em que foi assinado ou o Armistizio dell' 8 Settembre . Na realidade, não era exactamente uma trégua, mas uma genuína rendição incondicional pós-guerra. Trieste foi o centro de uma série de vinganças que marcaram profundamente a história da cidade e da região circundante que suscitam ainda hoje acesos debates. Durante a ocupação nazi a Risiera di San Sabba - hoje Monumento Nacional - utilizada como campo de prisioneiros e de passagem para os deportados para a Alemanha e Polónia e campos de detenção e eliminação de partigiani italianos e eslavos, dissidentes políticos e judeus.


A Risiera foi único campo de concentração na Itália e na Europa Meridional, munido de forno crematório, posto em funcionamento em 4 de Abril de 1944. Na era triestina a primeira mensageira partigiana da Itália deportada para Auschwitz foi Ondina Peteani.
Em 30 de Abril de 1945 insurgiu-se o Comité de Libertação Nacional CLN de Trieste, apenas um dia antes da chegada das forças jugoslavas de Tito. As tropas alemãs resistiram até à tarde de 2 de Maio, rendendo-se somente quando chegaram à cidade os primeiros soldados neozelandeses. O exército jugoslavo manteve o controle de Trieste até o dia 12 de Junho (os quarenta dias de Trieste), durante os quais ocorreram execuções sumárias.


Não apenas os cadáveres mas também os vivos eram atirados nas foibe, cavidades cársticas, tipo de relevo geológico caracterizado pela corrosão das rochas, que leva ao aparecimento de uma série de características físicas, tais como cavernas, vales secos, vales cegos, cones cársticos, paredões rochosos expostos, etc. O relevo cárstico ocorre predominantemente em terrenos constituídos de rocha calcária, mas também pode ocorrer em outros tipos de rochas carbonáticas, como o mármore e rochas dolomíticas, abundantes na região, para que ali morressem de fome.
Posteriormente os Aliados assumiram o controle da cidade.


As reivindicações jugoslavas e italianas bem como a importância do porto de Trieste para os Aliados foram o motivo em 1947, sob a égide da ONU, a instituição do "Território Livre de Trieste" (TLT), na prática um Estado em si. Pela impossibilidade de nomear um Governador escolhido com o acordo entre anglo-americanos e soviéticos, o TLT permaneceu dividido em duas zonas de ocupação militar: a Zona A administrada pelos Aliados e a Zona B administrada pelos jugoslavos. Esta situação continuou até 1954 quando o problema foi resolvido simplesmente dividindo o território livre de Trieste segundo as duas zonas já designadas: assim, a Jugoslávia chega até aos montes da periferia da cidade. Tal situação provisória só foi definitivamente resolvida em 1975, com o Tratado de Osimo entre a Itália e a então República Socialista Federal da Jugoslávia.


Alguns movimentos locais relembram porém que os artigos do Tratado de Paz, firmado e ratificado pela Itália e por 21 nações envolvidas no Tratado de Paris (1947), que instituíram o TLT, de jure jamais foram revogados. Recentemente, respondendo a uma das suas petições, o Secretariado das Nações Unidas confirmou por escrito que até agora qualquer país membro da ONU poderia requerer à mesa a ordem do dia com a designação do Governador do Território Livre.