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sábado, 31 de julho de 2010

BREVE HISTÓRIA DA CIDADE DO PORTO


A origem de PORTUS-CALE
A área ocupada hoje pelo Porto foi cenário de vida humana desde o Paleolítico superior. Não existe ainda consenso onde surgiu o núcleo da antiga cidade inserindo-se aqui o problema da discussão de Cale e Portucale. Cale (Calem), aparece no Itinerário de Antonino (séc. II. d.C.). Para Sousa Machado, Cale será apenas o ponto de passagem entre as duas margens do Douro e terá o sentido de abrigo, isto é, de porto. A Cale os romanos juntaram portus (Portuscale, Portucale), segundo o mesmo autor, Cale, como povoação arcaica pré-romana não terá existido. Mendes Correia,   situa Cale no morro do Corpo da Guarda, na área mais tarde designada Cividade, como local de povoamento pré-romano que precede o Porto. Perto do morro de Pena Ventosa, onde se levanta a Sé, teria segundo este autor, igualmente uma ascendência pré-romana.   Portucale ficaria ainda junto do Douro na zona ribeirinha.

 Existindo ainda outras opiniões, parece ser consenso admitir a importância do morro de Pena Ventosa na origem da cidade no período pré-romano, na romanização e posteriormente, (tese mais tradicional). Imensas descobertas arqueológicas permitem atribuir relevo especial ao morro de Pena Ventosa. Aí, certamente o lugar da antiga Cale e, por isso, a origem do Porto.

 A confirmar estará a origem da própria palavra, à qual têm sido atribuídos muitos sentidos, mas que no seu étimo ( Cal, Kal ) significa pedra, rocha, lugar elevado e rochoso, Portuscale   ( do nome romano Portus + Cale), Portucale era de principio o Porto de Cale, que ficava naturalmente, junto do Douro, na foz do rio da Vila. Alguns séculos mais tarde, (documentalmente desde o 1º quartel do séc. XII, mas na prática já antes) a cidade passou a designar-se por Portus, Porto com o 1º elemento do nome, caindo a parte final.

De verdade histórica indiscutível, é a existência de dois muros defensivos no Porto, ambos medievais: A muralha dita sueva (cerca velha) e a muralha  fernandina  (cerca nova), das quais existem ainda hoje vestígios. Situam-se nos mais recuados séculos da idade média a época em que se ergueu a primeira muralha em volta da cidade no modesto povoado castrense no alto do morro da Pena Ventosa. Atribui-se aos Reis Suevos, a construção dessa primitiva cerca e terá sido sobre os alicerces dessa fortificação sueva, arrasada pelo chefe mouro Almançor em 825, que o Gascão Moninho Viegas, (trisavô de Egas Moniz), ajudado pelos cristãos, no tempo da Reconquista, mandaria reconstruir os muros do burgo.  Na acção da reconquista do território aos mouros, conhecida como Presúria do Porto, (no ano de 868), foi importante o papel do Conde de Vimara  Peres, considerado pelos historiadores o " restaurador da cidade de Portucale e fundador da terra portucalense", recordado desde 1968, na estátua equestre erguida junto à catedral portucalense.

 Designada também  "Castelo do Porto" em muitos documentos antigos, a cerca velha, data pois, da Alta Idade Média e existia ainda em 1120, aquando da doação do Burgo Portucalense ao Bispo D. Hugo. De facto, no documento de doação de D. Teresa, referem-se territórios "extra muros", que integravam, para além do Castelo propriamente dito, o couto  doado ao primeiro bispo da diocese definitivamente restaurada. Esta cerca primitiva, erguia-se no morro da Pena Ventosa, à volta da Sé e de algumas construções que formavam o núcleo do primeiro burgo portucalense.
No  tempo de D. Afonso Henriques foi o Bispo D. Pedro Pitões que recebeu junto à Sé os cruzados nórdicos que, em 1147, entraram na barra do Douro, convencendo-os a auxiliarem o Rei Português na conquista de Lisboa. 
Em 1330, o Porto era uma cidade importante e grande; era ponto obrigatório da actividade mercantil.           
Em meados do século XIV, torna-se premente construir uma nova muralha no Porto, de modo a proteger a cidade em pleno crescimento de todas as arremetidas inimigas.  
Até ao final da Idade Média o Porto foi local de disputas entre bispos e cónegos, clero contra frades franciscanos, bispos contra reis, burgueses contra bispos, burgueses contra fidalgos. Esta última disputa fez com que fidalgo que quisesse vir ao Porto só pudesse permanecer na cidade um máximo de três dias.            
Em 1355, o infante D. Pedro e o rei D. Afonso IV, devido aos acontecimentos que envolveram Inês de Castro, iniciam uma guerra que vai ser travada no Porto. A população, fiel ao rei, consegue resistir à investida de D. Pedro. Tornava-se imperioso amuralhar a cidade.
           
Esta decisão foi tomada pelo rei pois a obra era tão exigente e cara que só ele poderia patrociná-la. Foi mobilizada toda a população. As zonas limítrofes do Porto também colaboraram no empreendimento.      
Foi então D. Afonso IV o verdadeiro autor do amuralhar da cidade. No entanto, o rei não viu acabar a sua obra. Esta terminou em 1370, volvidos cerca de quarenta anos de trabalho anónimo, já no reinado de D. Fernando. No total a muralha preenchia 44,5 hectares, cinco portas defendidas por torres, inúmeros postigos e cubelos, conciliando na perfeição interesses civis e militares.

O Porto medieval é labiríntico, de ruas estreitas e tortuosas. Todavia, prosperava, graças ao comércio com os países do Norte, e da vontade e firmeza da sua população. Aquando a crise de 1383-1385, o Porto esteve incondicionalmente ao lado do Mestre de Avis. São muitas as ligações do fundador da dinastia de Avis ao Porto, aqui se casou em 1387 com D. Filipa de Lencastre, aqui nasceu sete anos mais tarde o Infante D. Henrique.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

SOROR MARIANA ALCOFORADO

Freira nascida em Beja, que como autora de cartas apaixonadas e famosas pela naturalidade mereceu a admiração de autores como Racine, Stendhal e Rilke.
Com onze anos, é obrigada a entrar para o convento franciscano de Nossa Senhora da Conceição, em Beja, contra a sua vontade, mas para cumprir a irrevogável decisão do pai, que assim decidiu, para protegê-la do brutal conflito provocado pela guerra com Espanha. Ali permaneceu, mas sempre esperando pelo dia em que poderia regressar ao seio da família e à liberdade da vida real.

Após a chegada de um regimento francês, à cidade, que fora ajudar Portugal na luta contra a Espanha, nas guerras da Restauração, ela conheceu um oficial da cavalaria, o Capitão Noël Bouton, futuro conde de Saint-Léger, mais tarde marquês de Chamilly.
 Então com vinte anos, o instinto físico de Mariana falou mais forte e ela deixou-se dominar por uma incontrolada paixão que a fez introduzi-lo secretamente na sua cela durante várias noites seguidas. Descobertos, a notícia dessa relação rapidamente se difundiu causando escândalo e o oficial foi mandado de volta à França. Destruída, ela passou a escrever-lhe, sem resposta, cartas extraordinariamente belas e apaixonadas.
 Faleceu na Cidade de Beja. A sua correspondência destinada a Bouton, as famosas “Lettres portugaises” (1669), um conjunto de cinco cartas, foram publicadas em Paris por Claude Barbin, avaliadas entre as mais comovedoras do género. Antecipando o movimento romântico, chamaram a atenção de La Bruyère, Saint-Simon e, mais tarde de Saint-Beuve e outros autores.
Nova publicação foi editada de Colónia (1678), uma a colectânea traduzida para o francês por Gabriel Lavergne de Guilleragues. A ele caberia por inteiro, segundo críticos modernos, a autoria da obra.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

OS JUDEUS EM PORTUGAL


Pesquisas históricas indicam que a presença judaica em Portugal remonta ao século VI antes da era cristã, sendo anterior à formação do reino de Portugal. No século XII, sob o comando de D.Afonso Henriques, Portugal torna-se uma nação e surgem as primeiras comunidades judaicas em Lisboa, no Porto, Santarém e Beja.
Durante o reinado de Afonso Henriques, os judeus viveram momentos de tranquilidade e prosperidade, possuindo também um sistema comunitário autónomo no qual o Grão Rabino era indicado pelo rei.
  
Neste período, o Grão Rabino, Yahia Ben Yahia, foi escolhido ministro das Finanças, sendo também responsável pela colecta de impostos no reino. A tradição implantada por Afonso Henriques, de escolher judeus para a área financeira e de manter um bom relacionamento com as comunidades judaicas, é seguida por seus sucessores.
No entanto, para os judeus, a era de prosperidade e de participação na vida política e económica no reino termina no início do século XV, com o aparecimento de um anti-judaísmo local e com a influência cada vez maior da Inquisição espanhola.
  
Por trás da deterioração da situação das comunidades judaicas estão as pressões da Igreja, o surgimento da burguesia e, por último, a aliança da Espanha com Portugal, fortalecida através do casamento de D. Manuel I com Isabel de Aragão e Castela ou D. Isabel de Trastâmara y Trastâmara, viúva do filho de D. João II e filha dos reis católicos Fernando II de Aragão e Isabel de Castela. D. Isabel morreu de parto em Saragoça, ao dar à luz.

 A sua morte, em 1498, durante o parto do seu filho, levou a que D. Manuel, numa política de aproximação entre as duas casas reais peninsulares, se viesse a consorciar com a sua irmã Maria em 30 de Agosto de 1500, tendo aí iniciado uma ligação dinástica com a Espanha tão profunda que, em última análise, estará na origem dos acontecimentos de 1580.

Como na Espanha, a prosperidade dos judeus em Portugal, despertou a inveja dos seus vizinhos, impondo-lhes, entre outras punições, maiores impostos.
Para a Igreja, a conversão dos judeus e o fim do judaísmo são as únicas maneiras de afirmar definitivamente a identidade messiânica de Jesus. (Presunção judaica) Para a burguesia, o fim dos judeus significa a possibilidade de conquistar uma posição privilegiada na vida económica da nação. Para os reis católicos, representa a extensão da Inquisição espanhola em solo português, perseguindo aqueles que conseguiram fugir do decreto de 1492, que determinou a expulsão de todos os judeus da Espanha.

Por trás da deterioração da situação das comunidades judaicas estão as pressões da Igreja, o surgimento da burguesia e, por último, a aliança da Espanha com Portugal, fortalecida através do casamento de Manuel I com Isabel, filha dos reis católicos Fernando e Isabel. 
A maioria dos judeus, que fugira da Espanha justamente para evitar a conversão, decide então, sair de Portugal. O Rei, no entanto, diante da possibilidade de evasão do capital financeiro do país, juntamente com a população judaica, publica um novo decreto, que proíbe a partida de Portugal e força os judeus a se converterem.

Segundo o relato de Cecil Roth, no seu livro "Uma História dos Marranos", crianças foram arrancadas do colo dos seus pais e entregues a famílias cristãs, para viverem em locais muito distantes dos seus familiares. Para alguns judeus era preferível a morte do que o baptismo dos filhos.
Diante dessas medidas, não restaram muitas opções aos judeus portugueses. Enquanto uma parcela das comunidades judaicas locais aceita o seu destino e assume totalmente a nova religião, chamados “Cristãos Novos” outra segue os novos preceitos apenas aparentemente, mantendo secretamente os seus rituais e tradições, implacavelmente perseguidos pela Inquisição. São justamente os descendentes dessas gerações que hoje, 500 anos após o decreto de expulsão e a conversão forçada, começam gradativamente a buscar e a assumir sua herança judaica.


Porquê o anti-semitismo?  
 
Desde a crucificação de Jesus da Nazaré - um judeu - que o mundo ocidental ficou anti-semita. Mesmo os que não acreditaram ou acreditam na divindade de Jesus, não compreendem nem aceitarão nunca o ódio que os seus compatriotas lhe votaram e que levou ao seu sacrifício na cruz.  
Foi na verdade uma crueldade imperdoável! Foi o sacrifício de um justo inocente. Tudo por um fundamentalismo religioso que hoje, utilizado por outros, tornou os perseguidores em perseguidos.  
E Porquê? O próprio Pilatos, como conta Eça de Queirós, na Relíquia, não lhe encontrou nenhuma falta, nenhum crime… Nem sequer trepou ao muro do vizinho para o espreitar - como dizia o romano.  
Ainda tentou salvá-lo, aproveitando o costume da Páscoa e libertando um prisioneiro, mas os judeus preferiram a libertação de Barrabás, um criminoso ou “um terrorista”, nos tempos de hoje e que o sangue do justo caísse sobre as suas cabeças e a dos seus descendentes, disseram.  
  
O procurador romano lavou as mãos, e mandou-o crucificar. Para o romano era mais judeu menos judeu, pois estes só causavam problemas a Tibério com as suas revoltas provocadas pelos seus extremismos religiosos.  
Matar um judeu, um gaulês ou um lusitano, nada significava para Roma.  Pouco mais tarde, para aplacar uma rebelião judaica, Tito, em 70 dC., destrói Jerusalém e arrasa o Templo.

Os judeus sempre foram empreendedores e dotados de conhecimentos excepcionais para a época (assim como hoje); naquele tempo, em plena Idade Média cuja população era totalmente analfabeta e cujo conhecimento estava nos mosteiros e conventos, os judeus eram letrados, diplomatas, conselheiros reais, administradores, médicos, matemáticos, astrónomos, comerciantes e banqueiros e, embora a maior parte da população judaica fosse composta de pessoas com profissões bem mais modestas, a saber, alfaiates, sapateiros, tecelões, pastores e pequenos comerciantes, grande parte de todo esse saber e conhecimentos foram perdidos por Portugal, com a fuga forçada dos judeus.

Para os judeus portugueses, o Programa de Lisboa foi a gota de água final. Iniciava-se uma nova diáspora judaica, tendo, alguns, rumado para o Norte da Europa, onde fundaram comunidades nos Países Baixos, em especial na Holanda e também na Alemanha. Outros dirigiram-se para o sul da França (Bordéus e Biarritz,) e até mesmo para a Inglaterra, onde a Inquisição praticamente deixou de ter expressão autoritária. Alguns judeus preferiram retornar ao Médio Oriente, tendo sido bem recebidos pelos turcos otomanos.

Os judeus portugueses também chegaram com os holandeses à Capitania luso-brasileira de Nova Lusitânia, Pernambuco, e consecutivamente a toda região setentrional do Nordeste brasileiro, outrora conquistado aos portugueses pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, entre os anos de 1630 a 1654, onde, em especial, se estabeleceram no Recife.