Pesquisas históricas indicam que a presença judaica em Portugal remonta ao século VI antes da era cristã, sendo anterior à formação do reino de Portugal. No século XII, sob o comando de D.Afonso Henriques, Portugal torna-se uma nação e surgem as primeiras comunidades judaicas em Lisboa, no Porto, Santarém e Beja.
Durante o reinado de Afonso Henriques, os judeus viveram momentos de tranquilidade e prosperidade, possuindo também um sistema comunitário autónomo no qual o Grão Rabino era indicado pelo rei.
Neste período, o Grão Rabino, Yahia Ben Yahia, foi escolhido ministro das Finanças, sendo também responsável pela colecta de impostos no reino. A tradição implantada por Afonso Henriques, de escolher judeus para a área financeira e de manter um bom relacionamento com as comunidades judaicas, é seguida por seus sucessores.
No entanto, para os judeus, a era de prosperidade e de participação na vida política e económica no reino termina no início do século XV, com o aparecimento de um anti-judaísmo local e com a influência cada vez maior da Inquisição espanhola.
Por trás da deterioração da situação das comunidades judaicas estão as pressões da Igreja, o surgimento da burguesia e, por último, a aliança da Espanha com Portugal, fortalecida através do casamento de D. Manuel I com Isabel de Aragão e Castela ou D. Isabel de Trastâmara y Trastâmara, viúva do filho de D. João II e filha dos reis católicos Fernando II de Aragão e Isabel de Castela. D. Isabel morreu de parto em Saragoça, ao dar à luz.
A sua morte, em 1498, durante o parto do seu filho, levou a que D. Manuel, numa política de aproximação entre as duas casas reais peninsulares, se viesse a consorciar com a sua irmã Maria em 30 de Agosto de 1500, tendo aí iniciado uma ligação dinástica com a Espanha tão profunda que, em última análise, estará na origem dos acontecimentos de 1580.
Como na Espanha, a prosperidade dos judeus em Portugal, despertou a inveja dos seus vizinhos, impondo-lhes, entre outras punições, maiores impostos.
Para a Igreja, a conversão dos judeus e o fim do judaísmo são as únicas maneiras de afirmar definitivamente a identidade messiânica de Jesus. (Presunção judaica) Para a burguesia, o fim dos judeus significa a possibilidade de conquistar uma posição privilegiada na vida económica da nação. Para os reis católicos, representa a extensão da Inquisição espanhola em solo português, perseguindo aqueles que conseguiram fugir do decreto de 1492, que determinou a expulsão de todos os judeus da Espanha.
Por trás da deterioração da situação das comunidades judaicas estão as pressões da Igreja, o surgimento da burguesia e, por último, a aliança da Espanha com Portugal, fortalecida através do casamento de Manuel I com Isabel, filha dos reis católicos Fernando e Isabel.
A maioria dos judeus, que fugira da Espanha justamente para evitar a conversão, decide então, sair de Portugal. O Rei, no entanto, diante da possibilidade de evasão do capital financeiro do país, juntamente com a população judaica, publica um novo decreto, que proíbe a partida de Portugal e força os judeus a se converterem.
Segundo o relato de Cecil Roth, no seu livro "Uma História dos Marranos", crianças foram arrancadas do colo dos seus pais e entregues a famílias cristãs, para viverem em locais muito distantes dos seus familiares. Para alguns judeus era preferível a morte do que o baptismo dos filhos.
Diante dessas medidas, não restaram muitas opções aos judeus portugueses. Enquanto uma parcela das comunidades judaicas locais aceita o seu destino e assume totalmente a nova religião, chamados “Cristãos Novos” outra segue os novos preceitos apenas aparentemente, mantendo secretamente os seus rituais e tradições, implacavelmente perseguidos pela Inquisição. São justamente os descendentes dessas gerações que hoje, 500 anos após o decreto de expulsão e a conversão forçada, começam gradativamente a buscar e a assumir sua herança judaica.
Porquê o anti-semitismo?
Desde a crucificação de Jesus da Nazaré - um judeu - que o mundo ocidental ficou anti-semita. Mesmo os que não acreditaram ou acreditam na divindade de Jesus, não compreendem nem aceitarão nunca o ódio que os seus compatriotas lhe votaram e que levou ao seu sacrifício na cruz.
Foi na verdade uma crueldade imperdoável! Foi o sacrifício de um justo inocente. Tudo por um fundamentalismo religioso que hoje, utilizado por outros, tornou os perseguidores em perseguidos.
E Porquê? O próprio Pilatos, como conta Eça de Queirós, na Relíquia, não lhe encontrou nenhuma falta, nenhum crime… Nem sequer trepou ao muro do vizinho para o espreitar - como dizia o romano.
Ainda tentou salvá-lo, aproveitando o costume da Páscoa e libertando um prisioneiro, mas os judeus preferiram a libertação de Barrabás, um criminoso ou “um terrorista”, nos tempos de hoje e que o sangue do justo caísse sobre as suas cabeças e a dos seus descendentes, disseram.
O procurador romano lavou as mãos, e mandou-o crucificar. Para o romano era mais judeu menos judeu, pois estes só causavam problemas a Tibério com as suas revoltas provocadas pelos seus extremismos religiosos.
Matar um judeu, um gaulês ou um lusitano, nada significava para Roma. Pouco mais tarde, para aplacar uma rebelião judaica, Tito, em 70 dC., destrói Jerusalém e arrasa o Templo.
Os judeus sempre foram empreendedores e dotados de conhecimentos excepcionais para a época (assim como hoje); naquele tempo, em plena Idade Média cuja população era totalmente analfabeta e cujo conhecimento estava nos mosteiros e conventos, os judeus eram letrados, diplomatas, conselheiros reais, administradores, médicos, matemáticos, astrónomos, comerciantes e banqueiros e, embora a maior parte da população judaica fosse composta de pessoas com profissões bem mais modestas, a saber, alfaiates, sapateiros, tecelões, pastores e pequenos comerciantes, grande parte de todo esse saber e conhecimentos foram perdidos por Portugal, com a fuga forçada dos judeus.
Para os judeus portugueses, o Programa de Lisboa foi a gota de água final. Iniciava-se uma nova diáspora judaica, tendo, alguns, rumado para o Norte da Europa, onde fundaram comunidades nos Países Baixos, em especial na Holanda e também na Alemanha. Outros dirigiram-se para o sul da França (Bordéus e Biarritz,) e até mesmo para a Inglaterra, onde a Inquisição praticamente deixou de ter expressão autoritária. Alguns judeus preferiram retornar ao Médio Oriente, tendo sido bem recebidos pelos turcos otomanos.
Os judeus portugueses também chegaram com os holandeses à Capitania luso-brasileira de Nova Lusitânia, Pernambuco, e consecutivamente a toda região setentrional do Nordeste brasileiro, outrora conquistado aos portugueses pela Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, entre os anos de 1630 a 1654, onde, em especial, se estabeleceram no Recife.
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