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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

SEREIAS


Ao longo do tempo, as sereias mudam de forma. O seu primeiro historiador, o Rapsodo, nome dado a um artista popular ou cantor que, na antiga Grécia ia de cidade em cidade recitando poemas, principalmente epopeias. No décimo segundo livro da Odisseia, não se refere como eram as sereias; para Ovídio, são aves de plumagem avermelhada e rosto de virgem;

 para Apolónio de Rodes, autor do poema épico “Os Argonautas” e que no fim da vida, dirigiu a Biblioteca de Alexandria, da metade do corpo para cima são mulheres e, para baixo, aves marinhas; para o mestre Tirso de Molina com o pseudónimo de Fray Gabriel Téllez (e para a heráldica), "metade mulheres, metade peixes".

Não menos discutível é a sua categoria: o dicionário clássico de John Lemprière entende que são ninfas; o de Quicherat, Etienne Jules Joseph, que são monstros e o de Pierre Grimal que são demónios. Moram numa ilha a poente, perto da Ilha de Circe, península do Monte Circeu em Itália, mas o cadáver de uma delas, Parténope que era uma sereia que teria fundado a cidade de Nápoles, foi encontrado em Campânia, e deu o seu nome à famosa cidade que agora se chama Nápoles, e o geógrafo Estrabão (em latim, Cnaeus Pompeius Strabo) viu a sua tumba e presenciou os jogos ginásticos que periodicamente eram celebrados para honrar a sua memória.

 A Odisseia conta que as sereias atraíam e faziam naufragar os navegantes e que Ulisses (Odisseu), para ouvir seu canto e não perecer, tapou com cera os ouvidos dos remadores e ordenou que o amarrassem ao mastro. Para o tentar, as sereias ofereceram-lhe o conhecimento de todas as coisas do mundo.

Uma tradição recolhida pelo mitólogo Apolodoro, em “Biblioteca”, (em grego: Βιβλιοθήκη), em três livros, conta que Orfeu, poeta e músico, filho de Apolo, e da musa Calíope, da nave dos argonautas, cantou com tal doçura que as sereias se precipitaram ao mar e se transformaram em rochas, porque a sua lei era morrer quando alguém não sentisse o seu feitiço.

 No século VI, uma sereia foi capturada e baptizada a Norte do País de Cales, e figurou como uma santa em certos almanaques antigos, sob o nome de Murgen.

 Outra, em 1403, passou por uma brecha de um dique e viveu em Haarlem, uma cidade, capital da província da Holanda do Norte, até ao dia de sua morte. Ninguém a compreendia, porém ensinaram-na a fiar e venerava como por instinto a cruz de Cristo. Um cronista do século XVI argumentou que não era um peixe porque sabia fiar, e que não era uma mulher porque podia viver na água.

O idioma inglês distingue a sereia clássica (siren) das que têm cauda de peixe (mermaids). Na formação desta última imagem teriam influído por analogia os tritões, divindades do cortejo de Poseidon. No décimo livro da República, oito sereias presidem à revolução dos oito céus concêntricos. “Sereia” lê-se no dicionário em sentido figurativo: mulher de canto suavíssimo, bela e sedutora.

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